A SEXTA-FEIRA NÃO É INOCENTE
Sou de verdade um insano. Minha insanidade expulsa o cuspo na cara. A grande porção de cuspo, a cusparada toda, sempre tem início na quinta-feira, que não é a quinta-feira maior. Na última, sou vítima de lapidação moral da sociedade. Sou mesmo portador de uma monomania, que aceito inocente. De inocência quiçá, ruinosa, vesga, beirando mesmo uma fuça afincada, de malária. Nada que possa ter poder de me remeter ao beleléu – logo após onde Iscariotes perdeu a meia branca do pé esquerdo – tem mais o condão de me aterrar. No ano do treze, quantidade que venceu o doze, que por sinal dizimou minha estrela, vou devanear sim! Roberto Drummond não delivrou sobre minha delgadeza de alma. A saber: manda aviso – navio pequeno e ligeiro – pra me contar que nenhuma sexta- feira é inocente.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Janeiro 04,2013
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Que o ano velho e o ano novo se consumam. Explodam. Tudo é questão de calendário. Nada de novo no front, no ano que vem. Essa reprodução ilegal não me assusta. Em sendo trivial o calendário, que seja o eclesiástico, o egípcio, o Juliano, e para engodo melhor, que seja o lunar. Aceito, de caso pensado, o dispêndio que se tem com essa galhofa toda. É tudo próprio de uma turba em desordem intelectual. Na “cidade maravilhosa”, o paraíso das balas perdidas, mais de milhão foi gasto na velhacaria toda. Na capital dos paulistas, onde a contorção força o homem contra o concreto, a pantomima dos shows agrada bem aos filhos dos filisteus. Quanto frenesi na cara do caos! Tenho inveja de dois cavalos brancos que pastam em frente da minha casa. Sei que devo pastejar com eles. Seja assim e não tomarei saber do número de homicídios, acidentes, e jovens presos, na mesma terça-feira de 2013, porquanto faltam escolas e interesse, que não educaram as crianças. Posto isso, na forma e na escrita do desdenhador, que o prazer em ser logrado lhes acompanhe. Boa noite Brazil!!!
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Dezembro 31, 2012
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A SEXTA-FEIRA NÃO É INOCENTE
Sou de verdade um insano. Minha insanidade expulsa o cuspo na cara. A grande porção de cuspo, a cusparada toda, sempre tem início na quinta-feira, que não é a quinta-feira maior. Na última, sou vítima de lapidação moral da sociedade. Sou mesmo portador de uma monomania, que aceito inocente. De inocência quiçá, ruinosa, vesga, beirando mesmo uma fuça afincada, de malária. Nada que possa ter poder de me remeter ao beleléu – logo após onde Iscariotes perdeu a meia branca do pé esquerdo – tem mais o condão de me aterrar. No ano do treze, quantidade que venceu o doze, que por sinal dizimou minha estrela, vou devanear sim! Roberto Drummond não delivrou sobre minha delgadeza de alma. A saber: manda aviso – navio pequeno e ligeiro – pra me contar que nenhuma sexta- feira é inocente.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Janeiro 04,2013
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Que o ano velho e o ano novo se consumam. Explodam. Tudo é questão de calendário. Nada de novo no front, no ano que vem. Essa reprodução ilegal não me assusta. Em sendo trivial o calendário, que seja o eclesiástico, o egípcio, o Juliano, e para engodo melhor, que seja o lunar. Aceito, de caso pensado, o dispêndio que se tem com essa galhofa toda. É tudo próprio de uma turba em desordem intelectual. Na “cidade maravilhosa”, o paraíso das balas perdidas, mais de milhão foi gasto na velhacaria toda. Na capital dos paulistas, onde a contorção força o homem contra o concreto, a pantomima dos shows agrada bem aos filhos dos filisteus. Quanto frenesi na cara do caos! Tenho inveja de dois cavalos brancos que pastam em frente da minha casa. Sei que devo pastejar com eles. Seja assim e não tomarei saber do número de homicídios, acidentes, e jovens presos, na mesma terça-feira de 2013, porquanto faltam escolas e interesse, que não educaram as crianças. Posto isso, na forma e na escrita do desdenhador, que o prazer em ser logrado lhes acompanhe. Boa noite Brazil!!!
SOMOS TODOS FELIZES
Eu não sei nada. Toda imprecisão do meu ser, que levo , que suporto, segue no volante do meu carro, também não é autêntica. Bem sei do constrangimento estampado na minha cara, quando do sinal amarelo ao vermelho, ganho tempo e olho no retrovisor. A gravata, óculos escuros e a valise no banco do carona, traçam meu perfil idiota. Quem conduz aquele veículo tem o olho direito gauche e um coração repleto de calhaus e seixos que foram tirados do fundo dos rios. Posso me esconder detrás de frases feitas – não tenho certeza - e falar de “Pão e Tulipas”. Não logrando êxito nessa pantomima, posso lançar mão de um romance do João Ubaldo Ribeiro e observar tudo de esguelha. Em tudo correndo bem, com a certeza da imprecisão vou sair sob apupada moderada. Entrevistado no meio da turba que tudo sabe – eu não sei nada - farei realce, maior lustre ao que não vi. Fortemente armado de intrujice vou comentar, com propriedade, sobre “A casa dos budas ditosos”.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Dezembro 10, 2012 _____________________________________________________
25 DE DEZEMBRO DE 2012 ( Dedicado a minha cadelinha “Xodó da vovó”, falecida hoje )
Os maias não estão mortos. Não me parecem mortos. Não mataram o mundo. Detrás da vida deles persiste mesmo é o “cheiro do ralo” que esse mundo todo sempre teve e terá. Qualquer inepto sabe disso. Entre o branco e o preto,quase escuro, os pardos de alma, excêntricos, nem atiraram calhaus. Tem tarde de sol vermelho e nuvens diluídas. Foi assim que minha Xodó da vovó partiu. Um silêncio só do unigênito. Eu sei que ela foi admoestar, repreender com brandura, os cães que mereceram o céu. Estou de volta, enfim, ao quarto dos fundos. Sei que a história toda, clandestinamente vive aqui, colada, clarificando vinho e sangue em pragmática e absurda simbiose. Os maias não mataram o mundo e perdi minha cadelinha e o sol vermelho – sem ser comunista – e o “cheiro do ralo” na minha fuça, tudo ali na prateleira dos fundos. Se eu contar a história toda, terei que tirar a cara e nenhum substantivo terá serventia.
Silvio Lopes de Almeida Neto
__________________________________________________________CALHAU E SEIXO
Escrevi o texto. Prevariquei. O ferrete dos inimigos veio rápido. Detrás da sombra o leitor lançou vaias e todo ditoso. Não veio bem o que eu pensava. Criei o arremedo de um substantivo morto. Descrevi sinuosidades de todo coração partido. Não agradei. Houve dissidência até na alma que suporto. Confesso que o acinte foi inevitável. Desejei cada comparação imbecil de um filósofo de esquina. Decaído, mesmo assim escrevi o texto. Admito, ainda, que ele tem o poder de vida e morte. O vice sabe disso. Que venha a desinteligência. Não sei do vice de Mussolini. O vice de Hitler veio ter na Argentina e ninguém soube. O comentário é de que o Inácio quase morreu vexado por não saber o nome do vice. Adianto que nem o Quaresma, “exímio construtor” não aceitou ser vice na honrada e importante Associação do Bairro Satélite. Enfim, tracei com giz um cartaz que afixei na porta do beco oferecendo recompensa: EXISTE RUELA OU VIELA, PAPEL HIGIÊNICO, CAIXA DE FÓSFORO, VELA OU GARRAFA DE CACHAÇA, QUEBRADA, OU ENCRUZILHADA COM NOME DE VICE?
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Dezembro 11, 2012
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FICANDO AS ASPAS.... MAIS DE 5 MIL ACESSOS.
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FICANDO AS ASPAS
(Dedicado a Izaura Maria Gomes Lopes de Almeida)
Não posso considerar a vida que existia no dia 20 de outubro do ano em curso. Tudo que estiver atrelado ao dia mencionado tenho como morto. Não vou menear meu coração para qualquer ato de desculpa. Devo registrar que se estivesse apto para tanto seria uma mentira com cabedal de armagedon, com cara de armagedon, que é tão falso quanto o céu de cada dia. A menção segue por conta de uma dor que me faz fincar as aspas. Irreparável separação, ainda que diante de toda contrição possível. Sei bem que o Arquiteto vem de retirar-me qualquer dicção para feitura de um texto fiel com a dor. Ao menos por enquanto a confusão se afunda na dor, a vida, ainda que exista prefácio para sua definição, se afunda na dor. É a dor pela dor. Rubem Braga já lecionava sobre a despedida sem despedida. Jamais ousei patentear, chegar perto daquela quantidade de pedras miúdas que jogam no coração da gente. Preferi ler apenas canto. Saibam, caros amigos, filhos de todas as mães abençoadas, que a vida é pantomima. Os eruditos ganham páginas no mundo inteiro escrevendo de uma separação geográfica, escrevo, por agora, apenas da morte de minha mãe e ganho o silêncio frio , do vento frio da tarde.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Novembro 26, 2012
___________________________________________VENDEDOR DE LIVROS
Presto-me a esclarecer, mais ou menos, que não sou impertérrito. Anoto, que em menos de um segundo posso ladear o mal e noutro desfigurar toda intensidade dos amores ocultos. Cediço que é preciso equilíbrio até para cerrar os olhos definitivamente. Se existe uma necessidade imperativa de meio termo ela é coisa dos autores que me criaram. Sou, não raras as vezes, motivo de piedade e lágrimas. Não se diga existir reflexão nessa medicina dos becos e bares onde se enfurnam as almas esquisitas. Não estando atrelado aos esbirros que andam nas Prefeituras e bibliotecas, sou mesmo empoeirado de dar dó. Saibam quantos interessar que estou denunciando, na penúltima página que me constitui, os jansenistas de plantão. Meu voto, caso venha para absolver, será castigado tanto quanto a nudez de Natalie que o pintor não desdenhou. A lisonja da mídia conta mais que a verdade. Deixo, enfim, tudo como sempre há que permanecer. Os espiões da literatura e os filósofos são sabedores que estou inerte na prateleira velha. Devo morrer assim. Mais valia tem decorar, repetir e ao final demonstrar que são todos eruditos.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Setembro 27,2012 _______________________________________________________________________________
Dr. SILVIO LOPES
VOLTAIRE E O COMPRADOR
Compro as palavras. Também compro frases inteiras. Que diferença pode fazer o comércio de sonhos? Toda possibilidade ou impossibilidade deve ser vencida e não importa a dona do jornal. Não importa que a cadela da dona do jornal tenha desaparecido, posso comprar a frase, a idéia da ignorância de tal sumiço. Pouco vai importar que os velhos, os jovens, as crianças, os homens ou as mulheres estejam procurando a cadela. Desejo mesmo é pensar nas possibilidades de que aquela cadela, vitoriosa seja na sua fuga da ausência e largueza de ideias. Que ela consiga se extraviar de verdade. Se extraviar na medida de sua menor porção. Permaneça intacta- que Deus lhe proteja- a qualidade infinita de que nunca mais ninguém e nada lhe determine cada passo, letra ou osso que deva refestelar-se. Mesmo que impossível e matematicamente extravagante tenha sido a fuga, que eu faça parte de toda contradição desenhada pela opinião pública em torno do caso. Desejo replicar tudo em favor da cadela. A cadela enquanto racional a finalidade de sua empreitada. Digo não à cadela do jornal, na qualidade que ela ostentava de revelar que tudo sabia. Que a nova cadela convertida, entenda a total impossibilidade de um consórcio acima ou abaixo do magma. A massa natural, fluida, ígnea, de origem profunda, natural da alma de consciência liberta, não cede ante o ferrão do antigo e da imposição de uma falsa paz costurada no tecido social da hipocrisia. Impudico, ascoso, será a história toda, se a cadela da dona do jornal perder a perspicácia que motivou sua fuga.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Agosto 30, 2012
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SOLDADINHOS AZUIS
Não há de existir privilégios. Não se diga de permissividade para escrever o que se pensa. De ótimo na farsa toda só pode restar desprezo. Então, vem o prazer estampado em Voltaire de se criticar tudo. Não sou primevo na arte de rezar ajoelhado sobre as pedras da rua, sobre o asfalto, dissecado, relevo que posso me desdizer e errar quando bem entender. Que a vida sempre permita-me essa falta de harmonia, essa falácia filosófica de gabinete. Preestabelecer tudo na Lei é maçante. Diante do colo desnudo de quem amo, vejo tragédias que Aristóteles não anotou. Não poderia fazê-lo. Um fim de mundo capturado pelas armas não se aproxima de Tróia. Por aqui, veias abertas da terra dos outros, Virgílio também não se lembraria dos padres que nada ensinaram. Adoravam queimar tudo. Amanhã, segunda-feira, mais aflito ainda, tombarei mais uma vez- e acreditem- perplexo. Nossos homens e mulheres- os maiores brasileiros de todos os tempos- resgatando suas vidas a cada segundo, caminham obedientes com a bagatela de um salário mínimo que não lhes permite chocolate quente no inverno. Hoje, domingo, os “soldadinhos azuis”, que não ficam cofiando a barba em face das contas a serem pagas no final do mês, saíram derrotados do Independência. Retorquiram, que o gramado é para um futebol veloz e a convulsão se avizinhara de todos. Para encerrar, anuncio que sendo um baeta, os “soldadinhos azuis”, quando eram guerreiros, aplacavam as mazelas vivenciadas no Palácio da Justiça e nas prisões.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Agosto 13, 2012
POUCO TEMPO
Estou de volta. Volto, entretanto, me parece que as coisas caminham no mesmo viés. A mesma direção oblíqua da traição acompanha a alma humana. É traição democrática. Todo mundo escalpelando a confiança que um infeliz lhe deposita. O infeliz também escalpa a confiança alheia. Anoto que a liberdade do ato eleitoral também me alforriou descaradamente.Sou obrigado a depositar, melhor digitar, minha ignóbil opção em uma data determinada. Opção em relação à traição, que bem sei, acontecerá de uma forma ou de outra. A gênese, que nada tem com o primeiro livro do Pentateuco, daquela terá início com a posse de quem eu tenha a contragosto digitado. Posso firmar que daquela data em diante o indigitado Homo sapiens sapiens não terá um segundo para me explicar sua atuação, nos seguintes quatro anos. É estou mesmo de volta! Rogam-me que valorize meu voto. Não valorizo! Mil vezes não, ainda que me atirem, bem no meio da minha fuça, um disco de ouro ou de metal dourado que sirva para cobrir um cálice e receber a hóstia que me obrigue a perdoar. Ouso destacar nesse plenário vazio da consciência, nesse colóquio utópico, unilateral, que travo com Voltaire, que a perfídia é qualquer coisa congênita do homem. Veio do céu, ressurge após a morte, se levanta após o fim da galáxia canibal e ninguém está imunizado. Valho-me, então, de Cândido, filho de Voltaire, melhor que eu aprenda a cultivar meu jardim e que o resto lá fora se cuide em expluir.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Julho 30, 2012
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ARMAGEDOM
Não me peçam prá nascer de sete meses, sou filho de minha mãe. Não sou filho da mãe. Sou filho do tempo. Sou filho da morte contrariado com a vida. Não faço viagens esquisitas ao mundo dos filósofos. Nunca foi minha pretensão filosofar sobre nada. Meu texto não é esnobe e não tem tal pretensão. Sou desta terra morta e posta nos copos de todo dia. Sou filho de meu pai, marido e pai que desertou de tudo. Não me peçam a sobriedade de oito meses. Meu mundo é expresso na minha cara vermelha de incertezas. Se vislumbro o fim das coisas e não mereço nenhum crédito na minha insanidade, é questão pouca e que pouco importa. Me ausentei por algumas semanas por piedade dos meus leitores inteligentes. Sei que me absolveram de toda tristeza que largo sempre na beirada da rua, e ela me segue. Ao meu lado, agora, um poeta completa 47 anos de vida! Vida que não entendo. Me respondam por favor, se vale o exílio, ou suportar mais uma eleição? Te darei um beijo no coração, se me perdoares. Caso contrário, que de minha tristeza, Maria, Adriana, Mariana e o resto do mundo me absolvam. Foi uma vida sem sentido que só levou frase sem razão.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
julho 23, 2012
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O FANTASISTA
Existe um bafejo mentiroso no inverno. Em todo inverno. Principalmente no presente inverno. Um comerciável inverno. Não existe razão, então, para que se comemore qualquer coisa. Nada vale junho de 2012. Isso é universal. O que ocorre é o descaramento da aceitação. Veio uma Eurocopa mentirosa. Apareceu uma Rio + 20 obrigando-me a comprar um baetão e rezar pelos meus ouvidos. S aqui esteve o Talebã ou algum sobrinho dele, conhecido por Talibã, as impressões se foram enquanto eu me exilei no “Rei do Frango”. Não aceitei nenhum convite para qualquer expediente. Eles também não vieram. Naquela fúria de um come-santo contemporâneo ainda ocorreu o escape de ser comensal em uma livraria. Graças ao final a que tudo descarapuça, já me encontro imberbe e posso desborrar a vasilha em que bebo água.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
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SOBRE CIÚME E FUTEBOL
Deixo sobre a mesa uma desorientada razão para escrever. Coisas do gênero humano. Segue de homenagens até aqueles que são presos por tráfico. Fica o ciúme e toda sua variação. Não existe uma vida tranqüila para quem se arremessa em público. Também não existe vida tranqüila para quem cultiva palpites. Escavar uma montanha até ultrapassá-la, não é questão de paciência. Se os bárbaros voltam, mais sedentários ainda, de esguelha ficam ouvindo tudo. É o fim! Sabe-se que a vida não é fácil assim. O que não enseja mistério e não precisa estar encostado em uma coronilha, só empresta-nos fragilidade e desconfiança do leitor. Nesses dias de cauda negra ouço cronistas e comentaristas num firme juízo de certeza sobre o que é e sempre será mudadiço. Nada importa a seleção que leva um histórico de sucesso. A coisa não segue bem assim. Existe a variável condição humana bem no meio do sucesso. Ao término dos noventa minutos, um único aspecto é levado em conta; o resultado. O fim vem justificando os meios. Três pontos contam tudo. Simples assim. Sucumbe a arte no futebol, o favoritismo. Conta a conquista do título e nenhuma outra qualidade do perdedor entra prá história ou é capa de revista. A qualidade se dispersa no tempo. Fica é o nome do campeão e ponto final. A lição a ser aprendida é a de que os senhores da mídia sigam a rota das possibilidades, do caos, do imprevisto e convivam com as possibilidades, ainda que contrariem as probabilidades. Sigam assim ou a cara vai dar no chão no dia seguinte. Haja justificativa técnica ou parecer de jogador aposentado e filósofo para explicar a devassa de quem não era favorito. As mucutas já se apresentam com preço mais alto em face da procura. Quanto ao ciúme, que também ficou sobre a mesa, veio uma preguiça intencional em escrever sobre ele. Não sou infenso na aceitação das hipóteses que desejam lhe explicar. Não falo de ojeriza pura e simples, menos ainda, complicada, no que tange ao rebate das teorias para explicá-lo. Catalogar seus efeitos é dissecar suas causas. Estas, infinitas, se perderiam na mortificação dos azarados personagens de Voltaire e nos belicosos homens da guerra. Decorre disso tudo um pedido de anistia para Otelo. Dotado de alma forjada na guerra, confiar em quem? Se somos todos guerreiros na luta pela própria vida, nascemos sós, vivemos em solidão e na depuração ainda imploramos o que não levaremos prá lugar nenhum, qual a certeira explicação para o ciúme diante de tantas variáveis? O que aprendi nesses dias, é que eles podem matar Zoroastro sem que ele esteja entre nós. Soube que uma freira da Ordem de Santa Clara bateu na porta da casa de meu pai, entregou-lhe um panfleto pequeno e amarelado alertando o filho dele para que vá cultivar o campo, sob pena de ter amputados, a língua e as orelhas.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Junho 12, 2012
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BOA NOITE CINDERELA
Boa noite Cinderela! Eis a forma mesquinha impressa na minha cara, com que lhe venho saudar. A fisionomia fendida é complemento das almas que querem muito crédito sob a luz e que durante a noite adoram empalar a verdade prá nos contar tudo pela metade no dia seguinte. O espanto de ontem nem é tão ordinário assim. Solitária, a médica nada disse sobre virtude ou vício. Suando e sem fôlego, de plantão, era responsável por 420 almas quase mortas e nem lhe conhecia aqueles corações aflitos. Noutro giro, os velhos ocupantes do poder se esmeram na demência que lhes acompanha, no sentido de que acreditemos da importância da Copa do Mundo no Brazil com z. Um financista quer convencer da importância de arenas que estão sendo construídas em Brazília do Brazil com z, tanto quanto daquela que se edifica em Manaus, locais em que serão realizadas grandes partidas de futebol durante e após a copa. Quais? Se Voltaire nos enviasse Memnon por certo ele não seria moderado, ao contrário, embriagado, sem dinheiro algum e com dois olhos a menos, em 24 horas estaria fugindo desta terra.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Junho 05 2012 ______________________________________________________
OUTRA HISTÓRIA DE ALGUÉM
Urge por conta de olhares de esguelha que a história entrecortada de Francisco, seja contada em no máximo sete ou oito linhas. Quando de suas andanças pelos bares e casas de tolerância, ainda que longe da ação pertinente aos locais, ele sempre levou consigo um bom e velho livro. Aquele que lhe parecia, para o momento de seu espírito, necessário. Fosse um livro feio quanto qualquer um pintor tacanho ou mulher digna de pena, ainda assim, com elegância ou sem ela, o livro indeterminado lhe socorria fosse no primeiro gole enganador, fosse no segundo, que anima, fosse no último que oculta, sem pressa, a dor que muitos esqueceram. Francisco não amava. Francisco não conhecia sequer mais do que duas mulheres. Não era a questão de lembrança de um retrato que por acaso viesse a pender na parede de seu hediondo quarto. Não, nunca se cuidou de coisas tão pelejadas aquelas andanças que ele mais preferia do que ver a luz do dia. Francisco era um sujeito inerme desde que viera ao mundo. Conhecia sim, a respiração de prédios úmidos onde jamais nenhuma dama, ou padre, ou pastor ou o diabo disfarçado de candidato a cachorrinho de madame, alguma vez tenha lhe sussurrado o entendimento de que a vida é ameaça escondida em qualquer gaveta. Visivelmente encomendado pela solidão, amarfanhado mesmo, uma única vez pôs-se a conversar com a mulher do espelho. Mulher do espelho era estudiosa do ódio e aversão. Furtivamente naquela noite de 28 de fevereiro, a três quilômetros da cidade, ela se apresenta e roga-lhe uma dose de qualquer bebida que lhe apertasse o peito.
-Me parece que a mesa é de quem ama o livro ou se não me engano de quem não gosta de conversa?
Francisco recupera a consciência de estar ali, recupera o fôlego e dispara:
-Nem uma coisa nem outra.De fato é a primeira impressão que por comodidade as pessoas costumam iniciar uma conversa comigo. Posso lhe garantir, Mulher do espelho, que a verdade se encontra calada há muito tempo e basta isso prá que você não diga mais nada.
A Mulher do espelho, com uma saia de pouco crédito, sem nenhuma bondade, vociferando, em face do som alto, lhe responde:
-Eu sempre soube que existe uma tristeza inerrante sob as águas do rio, de todo rio, e não foi preciso um livro prá me ensinar dessa coisa.
-Eu nunca aprendi a nadar.- lhe respondeu sucintamente Francisco.
O prefácio daquele dia e noite sem sentido, ele acabara de esculpir quando leu no seu mortiço livro, de capa vermelha e rasgada, que o autor lhe convidava e lhe pedia “que enterrasse o coração na curva do rio”. Francisco paga a conta, caminha por duzentos metros até a rodovia federal, faz sinal a um ônibus, entra, senta-se na poltrona 21, afaga seu próprio cabelo e por fim dorme.
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NASCIDO EM TAGANROG
O sujeito era esguio, cabelo liso, cenho carrancudo e não podia ser desvendado. Soube bem mais tarde que seu nome era Máximo Gorki. Tinha um apelido, mas dele não consigo lembrança. O encontrão com Aparecido foi algo que beirou o inusitado. Um contista diria que o desfecho culminaria em lesão corporal ou homicídio. Nada disso sucedeu. Com CTPS devidamente anotada, Máximo que portava uma valise melancólica e de história curta, não se desculpou e nem sorriu. Levou a mão direita ao queixo, postou a valise sobre o banco feito de cimento e aflito falou de seus deveres. Nenhuma palavra foi proferida por Aparecido, que se escutava, fingia que não. Aparecido era um tipo primevo, encarregado de não prestar atenção em nada e que sonhou, um dia, ser general de qualquer coisa, não importando o que fosse. Posso me lembrar que naquele dia o outono anunciava a cara fria do inverno e eu espirrava em demasia, daí que noventa por cento do que Máximo dizia me escapou. Contava ele ser natural de Taganrog, lugar inóspito, mas de uma beleza visceral, revestida de uma cultura original e intransferível. Em dado momento ele, Máximo, indaga a Aparecido:
- Por um acaso você já leu, ouviu dizer, ou conheceu meu concidadão Tchékhov? Sabe sim, aquele que é médico, aquele que não suporta a existência por sua falta de finalidade.
Aparecido, pálido, preocupado com a Segunda Divisão batendo na porta do Cruzeiro apenas respondeu:
-Nunca ouvi falar.
Dadas as circunstâncias do meu estado, imperiosa se tornara a minha partida, o que levei a efeito. Certo é, que recentemente, já com a cara cravada de asco, o João “Pipa”, que eu não tinha avistado no local àquele tempo, me contou que o Máximo finalizara o assunto açoitando o Aparecido com a afirmação: “Ninguém melhor do que Tchékhov compreendeu a tragédia contida nas pequenas coisas da vida”.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Maio 2012
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O CATIVEIRO DE GOYA
Com efeito, anoto que dei as costas ao mundo. No exílio e na opressão que dos diocesanos toda pele e carne me foram mostradas, trouxe o asco. O rebanho de gado miúdo, de gente miúda, me acompanharam. Riam de tudo o tempo todo. Sublinhado, fui coisa mandada pela heresia do desgosto. E louco e doente mental na sanidade daquela miúda mulher de gabinete. Bastardo que ama as palavras e o preço de pensar em demasia. Sem requintes de elegância, de toda tribuna imaginária discursei ao vento e aos que acumulam serosidade em ouvidos já atrofiados. Sei bem, que me tornei pintor de girassóis ansiosos e profeta dos que jamais retornam. É um mundo de oráculos e altares. Tudo erguido na insídia. Faltei, então, ao voltar, aos que precisam não de minha pena mas de um pouco mais do meu ingente descrédito. Levo em itálico um descrédito de tudo. Sem melindres, eis que sou egresso. Todo retorno é de meu conhecimento, qualquer que seja ele. Minha vida é feita assim. No mais das vezes ele é maleitoso, insalubre e velho. Muito velho. Disfarçadamente veio comigo, desta feita, um pedaço bem diminuto do erudito e muita mirra na alma.
Sílvio Lopes de Almeida Neto maio /2012
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A ESCADA
Estou descendo a Escada. Completamente. Vez por outra, em uma inutilidade sem tamanho, um meneio para a leitura. E mais não tem. Não há necessidade nenhuma. Pelo menos uma necessidade nisso tudo. Que fosse comum, tanto quanto ser técnico de futebol, com terno e gravata, em um ponto de ônibus sob uma temperatura de quarenta graus. Estou descendo a Escada. Submetido. Nada é voluntarioso na entrevista toda. As coisas se sucedem e não posso dizer que há gratidão ou afeto pelo caminho. Ao avesso, existe uma presença marcante em ocultar a atrofia vinda do que é inevitável. Ornamentar esse tempo com manto de esperança é, na verdade, um embuste. É embotar a materialidade dos degraus. Nada socorre ficar do lado direito da vida, perder a cor, empalidecer. Ficar do lado esquerdo na mesma vida, ainda não é rima e menos ainda solução. Na verdade, nenhuma rima pode alcançar o ranger da porta. E é assim invariavelmente. O inexorável poder de atordoar a vida da gente vem sabe-se lá de onde. Animar, então, só aparenta um revide áspero do desagrado.
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LIBERDADE FORA DA LEI
Jamais me deparei segurando entre os dedos um cálice. Lembro-lhes que o cálice de toda noite, de todas as tardes, o cálice que não fica bem em mesa alguma, vem dos infernos, das tragédias. Nada vem escrito. Que eu aprenda todas as línguas, mesmo aquelas dos céus e dos esgotos, eu não me pertenço. Sou fruto do acaso e da sorte, ou mesmo do azar. Leva-me a vida cansativa e morna. Somente darei valor ao que não anunciei, quando perdidos o que provavelmente me sustenta. E nem sei disso ainda. Saberei, pode ser que nunca saiba, tantas hipóteses me postam no meio da porta em que a liberdade é um ente fora da Lei. Bem-aventurados os que escrevem e descrevem os pecados e males. São credores de castigos desfalecidos. Não sendo justo a redenção não me alcança. Nenhum ser na terra é capaz de me desviar um vintém. MPR devidamente registrado no anel que conduz, agora pode entender o quanto a censura é IMPORTANTE! Os que retornam jamais serão perdoados e também não perdoam. Mas eu falava de um certo cálice. É minha desculpa reservista que serve num Álamo de transe e pacto com a covardia e o preconceito que bebem comigo. Aquele jovem cálice esteve no INFERNO DE DANTE, que duvido seriamente saibas como funciona. Garanto-lhe que na fusão de tanto mijo com água, e quem o disse foi você filósofo maldito, eu não desejo mais ser guilhotinado pela turba ansiosa, aflita e que não sabe onde mora a loucura. O certo do incerto inserto no embrolho todo dessa horda de baboseiras, vindas de cambulhada de uma mentirosa alma, é que não existe ou não existem mulheres amadas lá no fundo do bar. Na verdade, não existem mulheres e menos ainda o que ser amado. É cansaço puro e simples o pernoite em que nos debruçamos sobre as mesas e os mosquitos. Sobram mesas e mosquitos e mosquitos e mosquitos. Não sobram moscas. Sem que possa ser devidamente alcançado ainda tenho tempo para olhar mais uma vez o maldito cálice. Ele (o cálice), não tem fim. Sem o sacrifício de Aline e da morte de Anna (Rainha de Espanha), não há mesmo uma forma de saltar a ignorância da plebe (os que estão acima do bem e do mal) descobrir onde mora o tal de amor, viver a liberdade fora da Lei ou ser discípulo de qualquer coisa que o valha. Despeço-me em total tribulação e noticiando que existe uma brincadeira da Lua nova, mesmo que peremptória, e ela ensina como desfalecer fora da lei na última estação.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
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VISITANDO A ESPANHA
Não é caso de se dar crédito. É precisão de mais tempo mesmo. Ousadamente é caso de lançar mão de todo artifício para que a destemperança tenha mais tempo. Não haverá nenhuma intenção de diálogo nesse tempo. Se ele for deferido. Não haverá, também, interlocutores. Os textos virão tortos e sem a vida do narrador. Essencialmente, na sua composição e transferência de dor, a vida pode ser que tenha pouca duração. Imbecil duração. A demanda exigida nos dias de repressão ao cólera de alma e fé, não será singular. Pode ser que tudo aconteça, ou não, existe a possibilidade. Uma possibilidade realmente livre, de ser autor pela letra em si mesma e tanto, que se vai escrever sobre o menino que quebrou o braço esquerdo e ficou espantado. Os liberais de via esquerda, sem ânimo, que digam, então, das janelas de suas salas que a camisa rasgou e o bolso direito leva a mão vazia que surrou o amor de sua vida. Acredite, se ainda é possível, o tempo solicitado vai estar coberto de olhares que se parecem com os nossos. Acontece, tanto que se lá estivermos a retina se queima, uma sinestesia tão transparente! Quem disse ser possível dominar tudo o tempo todo? Se acontecer o exercício da devastação diária no lado esquerdo do homem, que ela venha depressa e não seja do tipo “nada com Deus é tudo”. Antes de outra Escritura Sagrada é importante que saibamos das palavras embriagadas que já estão sendo aviadas. Naquelas e outras não há o descaso do descanso no colo de Anna a Rainha quase viva de Espanha. Ressalte-se que não segue crônica alguma. Esse texto é passado e passado morno e morto. Não existe trajetória costumeira para ser descrita e nem retratada. É tudo um epílogo que se extingue em si mesmo. Absoluta depuração do vento esquisito na cara das máquinas. Não há definições nem abstrações restantes conquanto tudo parece mesmo como sempre, uma intimidação. Os fantasmas e os sacerdotes já estão devidamente empalados no ventre do tempo. Os servos da rainha vieram velhos demais.